Petrobras Quer "Dominar" a Braskem e Pressiona por Novo Acordo de Acionistas

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5/27/20253 min read

Petrobras e Braskem: os bastidores de uma disputa que pode mudar o setor petroquímico no Brasil

A Petrobras, gigante estatal do petróleo, e a Braskem, líder da indústria petroquímica na América Latina, estão no centro de uma movimentação estratégica que pode redesenhar os rumos do setor no país. Por trás de comunicados oficiais e reuniões de conselho, está em jogo muito mais do que o controle acionário: trata-se de influência, poder decisório e o futuro da competitividade no mercado brasileiro de químicos e derivados.

Participação e Influência

A Petrobras detém 47% do capital votante da Braskem, mas não exerce controle sobre a companhia. Essa participação expressiva, combinada à posição estratégica da Braskem no portfólio da estatal, levou a Petrobras a anunciar publicamente seu interesse em rever o atual acordo de acionistas — firmado entre Petrobras e Novonor (ex-Odebrecht), controladora da Braskem.

O objetivo é claro: aumentar sua influência nas decisões da Braskem e reestruturar a governança da companhia. A Petrobras argumenta que, mesmo sendo uma das principais acionistas, tem participação limitada no conselho de administração e na diretoria executiva. Atualmente, a Novonor tem direito de indicar três membros do conselho, incluindo o presidente, além do diretor-presidente da companhia. Já a Petrobras pode indicar dois conselheiros e um diretor. Um desequilíbrio que, segundo a própria estatal, não condiz com sua participação acionária e seu conhecimento técnico no setor.

A Crise da Novonor e o Efeito Dominó

O movimento da Petrobras ocorre em um momento crítico. A Novonor, mergulhada em uma dívida de R$ 15 bilhões com a Braskem Finance, usou ações da própria Braskem como garantia. Isso gerou uma corrida para vender parte de sua fatia na empresa, o que chamou a atenção de investidores como o empresário Nelson Tanure, que recentemente adquiriu ações preferenciais da Braskem e vem aumentando sua influência.

A combinação de uma controladora endividada e de um investidor externo com apetite por decisões estratégicas acendeu o alerta na Petrobras, que teme ver a Braskem sendo conduzida sem uma visão alinhada à sua expertise e aos seus interesses industriais.

Segundo Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, a situação atual é um “contrassenso”: a empresa que detém quase metade do capital votante está de fora das principais decisões. Ele classifica o atual modelo como “uma barbaridade” e defende um novo acordo que reflita melhor a realidade acionária e técnica da companhia.

Contexto de Mercado: Integração, Sustentabilidade e Incerteza

O setor petroquímico passa por transformações profundas. A pressão por sustentabilidade, as exigências regulatórias e a demanda por inovação exigem das empresas maior agilidade e integração. Nesse contexto, a Petrobras enxerga a Braskem como um ativo estratégico para verticalizar operações e fortalecer a presença em produtos de maior valor agregado.

Entretanto, os desafios são grandes. A Braskem enfrenta pressões internacionais, flutuação nos preços das matérias-primas e dificuldades para manter competitividade. Uma reestruturação bem-sucedida poderia gerar ganhos de escala e sinergias operacionais, mas também levanta preocupações entre os demais acionistas, que temem a centralização de poder e a perda de autonomia da empresa.

Além disso, há impactos diretos no mercado. Com a Petrobras assumindo maior controle, pode haver mudanças na linha de produção, no portfólio de produtos e nas políticas de preços, o que afetaria diretamente setores consumidores, como o automotivo, de embalagens e construção civil. Uma menor diversidade de produtos ou uma elevação de preços por falta de concorrência pode gerar efeitos em cadeia, afetando desde a indústria até o consumidor final.

O que está em jogo

A disputa não é apenas societária — é estratégica. A Petrobras quer transformar a Braskem em um braço industrial mais eficiente, produtivo e alinhado com seus objetivos de longo prazo. Para isso, defende uma governança mais técnica e com maior peso decisório. Já os demais acionistas avaliam com cautela esse avanço, com receio de interferências políticas e perda de independência operacional.

A movimentação da Petrobras também é interpretada como uma forma de evitar que investidores como Tanure assumam influência desproporcional sem o mesmo nível de comprometimento industrial e estratégico.

Perspectivas Futuras

O cenário pode evoluir para dois caminhos distintos. Num panorama otimista, Petrobras e Braskem alcançam um novo acordo de governança que reflita equilíbrio de poder, aumento de eficiência e avanço em direção à sustentabilidade — o que poderia atrair novos investidores e consolidar a posição das duas empresas no cenário global.

No entanto, um desfecho negativo não pode ser descartado. A resistência dos acionistas, as dificuldades políticas e a complexidade jurídica de alterar o acordo atual podem gerar instabilidade, queda na confiança do mercado e desvalorização dos papéis.

De qualquer forma, o desfecho dessa disputa promete impacto profundo no setor petroquímico brasileiro — e todos os olhos do mercado estão atentos ao próximo movimento no tabuleiro.